As Tromboses Venosas
Temidas Complicações de Varizes
Filipe Damasceno // 13 de Outubro de 2020
Olá! Tudo bem com você? No artigo anterior eu falei um pouco sobre as complicações das varizes, que são o que de pior pode acontecer se as varizes evoluirem sem qualquer tratamento. Você pode conferir esse artigo clicando aqui.
Mas percebi que uma complicação em particular gera muita curiosidade e muito medo nas pessoas. Além disso, o assunto é muito abrangente. Então decidi que merecia um artigo específico só para essa complicação.
Hoje vou falar sobre as TROMBOSES. O que acontece, os tipos de tromboses, quem tem risco de ter, sua relação com as varizes e muito mais. Vamos lá?!
Começando do começo: o sistema de coagulação
Não tem como explicar a trombose sem falar como funciona o sistema de coagulação.
O sistema de coagulação é um sistema extremamente complexo, composto de células, proteínas e outras coisas que não vou comentar para não dificultar. A grosso modo, é o artifício do nosso corpo na intenção de controlar qualquer eventual hemorragia.
Quando acontece uma lesão em um vaso sanguíneo, e ocorre extravasamento de sangue, se forma uma rede com os elementos do sistema de coagulação que basicamente cobrem o buraco no vaso, interrompendo o sangramento e dando chance desse vaso se regenerar.
Portanto a coagulação é uma coisa boa, quando serve para proteção do organismo.
O problema é que, em determinadas situações, este sistema de coagulação pode ser desencadeado erroneamente e causar alguns problemas.
Os componentes do sistema de coagulação estão ativos o tempo todo na circulação. Eles não esperam o sangramento acontecer. Estão de prontidão, antes mesmo do menor sinal de possível sangramento.
E não poderia ser diferente. O tempo todo temos microlesões nas paredes dos vasos. Sem o sistema de coagulação iríamos literalmente sangrar por qualquer coisa.
O que são tromboses?
A trombose acontece quando algo foge do controle do sistema de coagulação e ocorre coagulação do sangue no interior das veias, o que só deveria acontecer quando houvesse uma lesão.
Quando isso acontece, se forma um coágulo (trombo) que interrompe a circulação como se fosse uma rolha. Assim temos as tromboses venosas.
O que acontece para haver as tromboses?
Como o sistema de coagulação está sempre alerta, certas coisas podem desencadear uma coagulação desenfreada. Por exemplo:
- 1. Lesão do vaso: esta já explicamos e é a mais facil de entender. A coagulação prontamente acontece para interromper um sangramento. Porém quando a lesão é grande, o coágulo deve ser igualmente grande para parar o sangramento. Nesses casos pode interromper o fluxo e causar uma trombose venosa.
- 2. Estase sanguínea: os elementos da coagulação estão todo o tempo circulando. A velocidade do fluxo sanguíneo normalmente impede que eles se juntem e formem coágulos. Se a circulação por algum motivo não fluir bem, ou seja, fica muito lenta ou até parada em alguma região, os componentes da coagulação irão se juntar e dar início à cascata de coagulação que irá formar o trombo.
Isso acontece em casos como:
• pacientes permanente acamados ou com dificuldade de locomoção, como paraplégicos e hospitalizados graves, por exemplo.
• período pós-operatório de determinandas cirurgias. Especialmente grandes cirurgias que geram grande imobilidade. Porém em cirurgias menores também podem ocorrer (pois a própria cirurgia também faz o organismo produzir mais componentes da coagulação).
• longas viagens em que se permanence na mesma posição ou assento por horas. Por isso, ao viajar de avião ou mesmo de carro, é importante levantar a cada 2 horas aproximadamente e, em alguns casos, usar meias de compressão.
• e qualquer outra situação que você consiga imaginar que leve o fluxo sanguíneo a ficar mais lentificado. - 3. Hipercoagulabilidade: essa palavra feia significa situações que aumentem o número dos componentes da coagulação ou que, mesmo em número normal, aumentem a sua função ou capacidade de se aderir e formar coágulos.
Isso acontece em pessoas com alterações genéticas, as chamadas trombofilias. Também em determinados tumores que aumentam a produção desses componentes, em tabagistas, mulheres que usam determinados anticoncepcionais, na gravidez (pois é, grávidas tem mais risco de trombose), etc.
Observação:
Estes 3 fatores (lesão do vaso, estase sanguínea e hipercoagulabilidade) são chamados tríade de Virchow. Quando há presença de 2 ou 3 deles, o risco de trombose se torna elevado. Por exemplo, em um paciente acamado, uma lesão de um vaso pequena pode ser suficiente para causar trombose.
Tipos de tromboses e sintomas
A trombose pode acontecer em uma veia superficial (aquelas mais próximas da pele, como nas varizes ou as safenas) ou em uma veia profunda (quando ocorre nos vasos mais internos da perna).
Tromboflebite superficial (tromboses de veias superficiais):
Quando ocorre uma coagulação de sangue dentro das veias superficiais, ela é chamada tromboflebite superficial.
O paciente apresenta dor, vermelhidão, calor e inchaço no trajeto das varizes. A tromboflebite geralmente tem um tratamento simples, sem cirurgia.
O grande problema é que, embora raramente (temos aí a complicação da complicação), o coágulo pode progredir através das veias superficiais para as veias profundas, levando à situação seguinte.
Tromboses Venosas Profundas (ou TVP):
Uma complicação perigosa, que pode ter consequências trágicas e até mesmo deixar sequelas se não for tratada adequadamente.
Assim como a tromboflebite, o que acontece é a formação de coágulos no interior das veias. Só que aqui estamos falando das veias profundas (aquelas mais internas) da perna.
As veias profundas são o principal caminho do sangue das pernas no sentido do coração. Elas são responsáveis por levar até 90% da circulação venosa. Por isso, a Trombose Venosa Profunda é mais importante e mais sintomática que a superficial.
Ele obstrui a veia como uma rolha, impedindo o fluxo sanguíneo por aquela veia. Como as veias profundas são as veias principais dos membros, isso irá levar a um acúmulo de sangue nas partes do membro abaixo da trombose.
Isso leva a sintomas como inchaço, dor forte e enrijecimento da musculatura, especialmente da panturrilha.
Complicações das Tromboses Venosas Profundas
Você achou que a TVP já era desgraça demais, certo? Pois ela própria tem as suas complicações, que podem tanto ser mais recentes (como a embolia pulmonar), como mais tardia, na forma de sequela.
Embolia pulmonar:
Uma de suas principais e mais temidas complicações da TVP. É uma complicação grave, que pode levar à morte e deixar sequelas.
Ocorre quando um pedaço do coágulo que se formou nas veias profundas se solta, passeia pela circulação e atinge os vasos sanguíneos dos pulmões.
Dependendo do tamanho do coágulo e da área atingida, a pessoa pode não sobreviver. No caso de varizes, felizmente, essa é uma ocorrência rara.
Sequela da TVP: a Síndrome Pós-Trombótica ou Pós-Flebítica
Pode surgir até mesmo anos após a TVP. São causadas pelas “cicatrizes” deixadas pela TVP no sistema venoso.
Ela ocorre geralmente quando a trombose não recebe tratamento adequado ou quando este não tem o efeito esperado, ou até mesmo em casos de tromboses repetidas numa mesma veia profunda.
Vai ocorrer inchaço da perna acometida, acompanhada de coloração escurecida e endurecimento da pele. Podem ocorrer até úlceras (feridas). Muito parecido com o que ocorre na evolução da doença varicosa, porém muito mais difícil de tratar, já que a doença está nas veias profundas.
Varizes podem ter relação com tromboses?
Podem sim. Quando uma veia está dilatada e ainda por cima tem suas paredes doentes, como no caso das varizes, todo o fluxo do sangue está comprometido. Quando o sangue não tem um bom fluxo pela veia, ele tem uma chance maior de coagular, formando o trombo.
Como varizes são veias superficiais, é mais comum surgirem, na presença de varizes, as tromboflebites superficiais. Mas também é possível levarem a tromboses profundas.
Tromboses só acontece em veias?
Não. A trombose também pode acontecer em artérias, os vasos que levam sangue do coração para o corpo (as veias fazem o contrário). São situações bem diferentes da trombose venosa. Sua ocorrência é mais rara pela alta velocidade do fluxo sanguíneo arterial.
Suas principais causas são o tabagismo, o diabetes descontrolado, aneurismas e a aterosclerose, que é a deposição de placas de gordura nas paredes das artérias.
São situações de emergências, que levam a fortes dores de início súbito pela ausência de sangue para determinada região. Se não tratadas rapidamente podem levar a gangrenas e necessidade de amputações.
Como é feito o diagnóstico de tromboses?
Através da investigação, que vai buscar a presença dos fatores de risco e sintomas e do exame clínico, que irá identificar os sinais de trombose, como inchaço, dor forte e enrijecimento da musculatura, especialmente da panturrilha. Pode haver também vermelhidão e calor.
Exames complementares geralmente são necessários. O melhor exame para identificar uma trombose, seja superficial ou profunda, é a ultrassonografia com doppler.
O “doppler“, como é mais conhecido, é um exame não invasivo, que identifica sinais como a presença de um trombo no interior da veia, ausência de compressibilidade (a veia não se fecha quando pressionada devido ao trombo em seu interior) ou ausência de fluxo sanguíneo.
Como é o tratamento das tromboses?
Salvo casos bem raros, o tratamento quase sempre é não-cirúrgico. São feitos medicamentos para restabelecer o fluxo sanguíneo e para controle dos sintomas.
Além disso, são importantes medidas comportamentais como repouso e manter membros elevados. Em alguns casos são indicados o uso de meias de compressão. Porém cada situação deve ser avaliada caso a caso.
E o mais importante, em caso de dúvidas procure um cirurgião vascular e na presença dos sintomas descritos aqui acima, uma emergência.
A prevenção é o melhor remédio para tromboses
Na verdade, a prevenção é sempre o melhor remédio para tudo. Quando um problema chega ao ponto de apresentar uma complicação, quer dizer que o melhor momento para buscar ajuda foi lá atrás. Mas o segundo melhor momento é agora.
Busque controlar os fatores de risco que você viu nesse artigo, por exemplo, beba bastante líquido para auxiliar a circulação do sangue, pratique atividade física, evite o sedentarismo e o sobrepeso, use anticoncepcional prescrito pela sua ginecologista apenas e (pelo amor de Deus) nunca fume.
Além disso, procure tratamento para suas varizes o quanto antes, no início dos primeiros sinais ou tão logo seja possível.
Espero ter ajudado e em caso de dúvida pode fazer contato comigo. Você pode encontrar meus contatos e agendamento online clicando aqui.
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Filipe Damasceno
Cirurgião Vascular Especialista em Tratamento de Varizes e Flebologia Estética. Apaixonado por família, judô e cachorros.
Cirurgião Vascular especialista em doenças Venosas e Tratamento de Varizes. Natural de Niterói, vive e atua na mesma cidade. Atualizado em diversos cursos na área de Flebologia Estética, que é a aplicação de recursos minimamente invasivos para o tratamento dos sintomas e melhora da aparência relacionados às veias e varizes. Atua em diversos tratamentos como Escleroterapia Convencional e Ampliada, Escleroterapia com Espuma, microcirurgias dentre outros.
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