Meias de Compressão

Tudo que você precisa saber - Parte 1

Filipe Damasceno // 01 de Julho de 2020

Olá! Tudo bem com você? Poucas coisas na face da Terra são tão amadas e odiadas quanto meias de compressão. Confesso: o número de pessoas que as odeiam é um tanto maior que o de admiradores. Mas isso é uma grande injustiça.

De todas as meias de compressão prescritas (sim, elas são prescritas, como qualquer tratamento), aproximadamente 50% sequer chegam a ser compradas. Dessas, por experiência pessoal, menos da metade são corretamente usadas por 2 meses. E o número de adeptos cai vertiginosamente com o passar do tempo.

Geralmente as pessoas recebem uma prescrição de meia de compressão com a cara de quem vai tomar um remédio muito amargo. E realmente, agradável não é.

Mas não sai daí que nem tudo sobre meias de compressão é ruim. Hoje vamos falar tudo que realmente importa sobre o assunto. Por que usar, os tipos e tamanhos, como funciona, como calçar, e truques que ninguém fala sobre elas.

Vou dividir esse artigo em duas partes para não ficar muito extenso. Eu não quero te assustar com a quantidade de informação que vou dividir com você. Vamos lá?!

Como funcionam as meias de compressão

Bom, elas realmente fazem juz ao nome. Meias de compressão servem para comprimir. Comprimir o quê? As veias das pernas. Todas as veias? Não, somente as veias superficiais (aquelas mais próximas da pele). Nisso estão incluídas as varizes, que são veias superficiais dilatadas e doentes.

Sendo bem didático, o que as meias de compressão fazem é “espremer” as pernas para “fechar” as veias mais externas e assim, desviar o sangue que passaria por elas para as veias profundas, aquelas mais internas, e que mais raramente tem problemas.

Mas a falta dessas veias não faz falta? Nem um pouco. Tanto que nas cirurgias elas são até retiradas. Em condições normais, aproximadamente 90% da circulação das veias dos membros inferiores passa pelas veias profundas. Nós só aumentamos um pouco esse percentual com o uso das meias de compressão.

E qual é a intenção disso? Você lembra que lá atrás publiquei um artigo chamado “Quais são os sintomas de Varizes e porque eles ocorrem” (você pode conferir na íntegra clicando aqui). Nele explico que a congestão venosa é a grande responsável pelos sintomas de varizes.

Resumindo, a dificuldade do sangue subir pelas varizes ou veias doentes e dilatadas, vai levar ao acúmulo de sangue e líquido nas pernas, que levam aos indesejáveis sintomas e peso, cansaço e etc, além de inchaço e mais varizes.

Com o uso de meias de compressão nós virtualmente “excluímos” essas veias da circulação e assim, diminuímos ou até eliminamos os sintomas e o inchaço.

Para quais situações é indicado o uso de meias de compressão?

Elas são muito indicadas justamente para aqueles casos de pessoas que sofrem com a insuficiência ou congestão venosa descrita aí acima.

Usar meias de compressão não irá tratar as varizes existentes, mas pode frear ou desacelerar a evolução da doença varicosa.

Além disso, a meia de compressão é uma grande aliada especialmente nos casos mais sintomáticos, como aqueles com dores e sensação de peso e cansaço ou inchaços.

As principais indicações para seu uso são:

  • • Pacientes com varizes, como uma ponte até um tratamento mais duradouro:
    É possível usar meias de compressão como medida de longo prazo para casos de varizes. Porém, com os métodos atuais, normalmente não é mais necessário que o paciente continue usando as meias de compressão após o término do tratamento. Mas as meias podem estagnar a evolução da doença até que o paciente tenha condições de realizar um tratamento, ou caso opte por aguardar um melhor momento para tratar-se por decisões pessoais ou profissionais, por exemplo.
  •  
  • • Como medida de prevenção em pessoas com forte histórico familiar de varizes, ou naquelas que sua atividade exija que permaneça de pé ou sentada várias horas por dia.
  •  
  • • Pessoas com quadro de insuficiência venosa, com alterações da pele, inchaço ou úlceras (com cuidado especial e orientação médica para não piorar a lesão), ou com importantes sintomas.
  •  
  • • Outros casos especiais como:
    • – Como prevenção em pessoas que já tiveram trombose que passarão por cirurgia ou viagens longas.
    •  
    • Gestantes que sofram muito com a retenção de líquido e inchaço ocasionados pela gravidez.
    •  
    • Período pós-operatório de determinadas cirurgias que levem à grande imobilidade.
    •  
    • – Pacientes com quadro de Síndrome pós-trombótica, que é uma sequela após casos de trombose venosa profunda graves ou mal tratados, que cursam com muito inchaço.

Apesar de todas essas orientações, é importante levar em consideração que as meias de compressão, como dito antes, são um tratamento de saúde. Como tal, tem indicações muito particulares e também contraindicações, com riscos de complicações caso mal indicadas.

Portanto devem ser prescritas por Cirurgião Vascular ou médico/profissional de saúde habilitado, e não pela tia do zap ou a moça do catálogo.

Em quais casos onde não é indicado o uso de meias de compressão?

Alguns quadros podem se agravar com o uso das meias de compressão:

  • • Doença arterial obstrutiva periférica ou isquemias: tudo que um paciente com problemas na circulação arterial (chegada de sangue para os tecidos nas extremidades) não precisa é de uma meia que aperte e dificulte ainda mais o fluxo sanguíneo. A meia de compressão nesse caso pode agravar o problema e causar até uma isquemia ou gangrena.
    OBS: Não confundir circulação arterial com venosa. Falo mais sobre isso nesse artigo aqui.
  •  
  • • Insuficiência cardíaca não controlada: aqui o inchaço ou edema não é o problema em si, mas um sintoma de um problema cardíaco, que deve ser adequadamente controlado.
  •  
  • • Infecção de ferida ou pele: a presença de uma lesão ou úlcera não é uma contraindicação absoluta ao uso de meias de compressão, desde que esteja limpa de infecção, em bom estado e em processo de cicatrização. Caso contrário pode agravar lesão e impedir sua cicatrização.
  •  
  • Pacientes permanentemente acamados. O uso de meias de compressão não é o método indicado para evitar trombose nesses pacientes, com risco de piorar certas lesões.
  •  
  • Alergia ao material das meias. Há opções de materiais hipoalergênicos, mas essa aqui nós só vamos descobrir após o uso.

Os tipos de meias de compressão

Existem meias de compressão para todos os gostos. Meias de compressão para grávidas, para pós-operatório, para a prática de exercícios, com estilo social para trabalho, coloridas, com jeitos diferentões de calçar…

No final das contas, todas servem para uma única coisa: compressão. Todas essas características são adaptações que podem facilitar a vida de algumas pessoas, mas que fazem exatamente a mesma coisa que a meia de compressão comum.

Então, na prática, as duas únicas variáveis que importam são: o tamanho e a pressão/força de compressão.

Tamanho das meias de compressão:

Diz respeito a até qual região do corpo irá a meia de compressão. Podem ser dos seguintes tipos:

  • 3/4 (três quartos): como uma meia social, deve terminar antes do joelho.
  • Uma dica importante: evite puxar demais a meia de modo que ela acabe atrás ou acima do joelho. Ao longo do dia irá incomodar bastante. Coloque a meia naturalmente de modo que ela termine abaixo do joelho. Se tiver a perna pequena, dobre a parte final para que acabe abaixo do joelho. Eu disse dobre, não enrole senão aquela área vai incomodar.
  • É indicada para casos de doença restrita às partes mais inferiores ou para aqueles que buscam apenas prevenção.
  •  
  • 7/8 (sete oitavos): ela termina na parte mais alta da coxa. Da mesma forma como nos joelhos, não puxe demais para que não termine na virilha, o que irá causar desconforto. É indicada para casos que a doença se estenda até a área das coxas.
  •  
  • Meia-calça: essa é vestida como uma calça, comprimindo ao mesmo tempo as duas pernas e termina na cintura.
  • Apesar de ser um pouco chata às vezes por ter que abaixar e recolocar toda vez que for ao banheiro, ela serve para as duas pernas ao mesmo tempo e é muito indicada para mulheres que tenham a área das coxas mais grossas, evitando que a meia fique enrolando (uma reclamação frequente quando se usa as meias 7/8)!
  • É indicada também para casos de doença que se extenda até a região da pelve e glúteos.
  •  

Pressão das meias de compressão

Aqui estamos falando da “força” de compressão que as meias exercem sobre as pernas e coxas (pressão e força são conceitos diferentes mas apenas para entendermos mais facilmente). Aqui podem haver certas alterações dependendo da marca, mas basicamente são as seguintes:

  • Compressão suave (15 a 20 mmHg – milímetros de mercúrio): aperta com mais suavidade as pernas. Não chega a ser uma compressão tão efetiva, portanto é indicada quando não há varizes e se deseja apenas prevenção ou em casos que é preciso fazer uma adaptação antes de ir direto para compressões mais fortes (pacientes que não toleram).
  •  
  • Média compressão (20 a 30 mmHg): indicada para casos de doença leve a moderada ou, da mesma forma, como adaptação para pacientes com indicação de compressão mais forte.
  •  
  • Alta compressão (30 a 40 mmHg): aqui a compressão não é para qualquer um. O nível mais forte está indicado apenas para aqueles casos mais avançados, como insuficiência venosa grave, grandes edemas ou após alguns tratamentos de varizes.

Então vamos entender. Cada tamanho de meia de compressão pode exercer uma pressão diferente. Por exemplo, uma meia 3/4 pode ter pressão de 15-20 mmHg, 20-30 mmHg ou 30-40 mmHg. 

Outras características:

Outras características que não são a intenção principal da meia mas que facilitam na questão da adaptação ao uso dela (e nesse sentido qualquer ajuda é válida) são:

A maneira de calçar: algumas são acompanhadas de zíper nas laterais ao invés de ter que subi-las pela perna. Outras ainda acompanham (ou podem ser adquiridos separadamente) de um “calçador” que geralmente é uma estrutura metálica que ajuda a calçar a meia.

Meia de compressão sem ponteira
Meia de compressão sem ponteira

Meias com ou sem ponteira: quer dizer fechada até os dedos ou com os dedos à mostra, respectivamente. Os dedos expostos facilitam na adaptação mas podem incomodar caso tenha que se usar algum calçado.

 

 

Ufa! Como eu disse antes, não vou me alongar muito para este texto não ficar gigante, por isso dividi o artigo em duas partes. Em alguns dias vou postar o segundo com algumas dicas sobre como calçar e truques que ninguém fala para facilitar sua relação com as meias de compressão.

Espero ter ajudado e qualquer dúvida pode fazer contato comigo aqui.

Gostou do conteúdo? Considere deixar seu e-mail aí abaixo para não perder sempre que tivermos mais informações úteis e de qualidade pra você. Até a próxima!

Filipe Damasceno

Cirurgião Vascular Especialista em Tratamento de Varizes e Flebologia Estética. Apaixonado por família, judô e cachorros.

Gostou? Clique para compartilhar:

Cirurgião Vascular especialista em doenças Venosas e Tratamento de Varizes. Natural de Niterói, vive e atua na mesma cidade. Atualizado em diversos cursos na área de Flebologia Estética, que é a aplicação de recursos minimamente invasivos para o tratamento dos sintomas e melhora da aparência relacionados às veias e varizes. Atua em diversos tratamentos como Escleroterapia Convencional e Ampliada, Escleroterapia com Espuma, microcirurgias dentre outros.