Tudo que eu sei sobre LIPEDEMA

O que é o LIPEDEMA?

Precisamos claro, começar do começo. O lipedema é uma condição, ou um distúrbio crônico que ocorre nas células de gordura em certas partes do corpo.

O lipedema afeta principalmente as pernas, coxas, quadris e, em alguns casos, os braços. É um distúrbio caracterizado pelo acúmulo anormal de gordura quase sempre nas extremidades inferiores do corpo. Essa gordura é distribuída de maneira desigual e pode fazer com que as pernas pareçam inchadas e desproporcionais em relação ao resto do corpo.

O lipedema é uma condição que afeta eminentemente as mulheres, embora possa raramente ocorrer em homens também.

Ou seja, a principal evidência do lipedema vai ser o acúmulo excessivo e desproporcional de gordura nos membros inferiores ou mais raramente nos braços, comparado ao restante do corpo. É uma gordura que não diminui mesmo recorrendo a atividades físicos e perda de peso, pelo menos não na mesma proporção do que no restante do corpo.

É como se por mais que você se exercite e perca peso, sempre vai ter as pernas ou a região acometida mais “gordinhas“.

Por esse motivo, pode gerar uma frustração enorme e ser muito confundido com a obesidade, mas trata-se de uma condição completamente diferente.

Causas do Lipedema

A causa exata do lipedema não é totalmente compreendida, mas parece ter uma base genética, ou seja, alterações genéticas que levam ao maior depósito de células de gordura em determinadas regiões do corpo. Por quê? Por que sim!

Tanto que quase sempre existe um forte histórico familiar de lipedema (que em muitos casos ninguém nunca falou em lipedema, você sempre achou que era uma característica das mulheres da família).

Muitas vezes, a condição é desencadeada na puberdade, durante a gravidez ou após uma cirurgia ou um trauma.

Além disso, acredita-se que as alterações hormonais desempenhem um papel importante no desenvolvimento do lipedema, uma vez que a maioria das pessoas afetadas é do sexo feminino.

Sintomas do Lipedema

O lipedema é frequentemente diagnosticado tardiamente, pois seus sintomas podem ser confundidos com o ganho de peso normal. Porém, existem algumas características do lipedema que vão ajudar a diferenciá-lo:

Acúmulo de Gordura nas Extremidades Inferiores: A característica mais marcante do lipedema é o acúmulo anormal de gordura nas pernas, coxas e quadris. Essas áreas podem parecer desproporcionais em relação ao restante do corpo.

A região acometida, sejam pernas ou braços, vão estar aumentadas bilateralmente, ou seja, os dois membros, as duas pernas ou os dois braços são acometidos. E quase sempre o aumento é simétrico (eles são do mesmo tamanho ou quase do mesmo tamanho).

A cintura pode ser pequena em proporção às coxas, nádegas e pernas. Os pés e as mãos geralmente não são afetados, gerando uma espécie de bolsão ou um manguito ao redor dos tornozelos ou punhos.

Dor: Parênteses para uma curiosidade aqui: o Lipedema é também chamada de Síndrome da Gordura Dolorosa. Essa informação é extremamente importante para auxiliar no diagnóstico!!

Um dos sintomas mais marcantes do lipedema é justamente DOR nos tecidos acometidos. Dor ao simples toque muitas vezes da região com acúmulo de gordura, aquela pessoa que só de tocar ou apertar a perna sente dor, sabe? Dor essa que pode variar de leve a intensa, e inclusive ser confundida com outros problemas como a fibromialgia, por exemplo.

Sensação de Peso: As pessoas com lipedema frequentemente experimentam uma sensação de peso nas pernas, juntamente com dor e sensibilidade. Afinal ela está sempre carregando “peso extra” nessas regiões.

Facilidade de Hematomas: As áreas afetadas pelo lipedema são propensas a hematomas, mesmo com um trauma mínimo ou até mesmo espontaneamente, sem necessariamente uma causa. Sabe aquele roxinho que aparece e você nem lembra de ter esbarrado o local?

Inchaço: O inchaço das pernas é comum, e tende a ser pior no final do dia (alguém lembrou outra situação que faz isso? Isso mesmo, as varizes!).

Lembrando que o inchaço pode ter uma infinidade de causas, incluindo as próprias varizes.

Uma outra causa que também confunde bastante é o linfedema, só que neste o problema está não na gordura, mas nos vasos linfáticos. Um diferencial aqui é que o linfedema acomete quase sempre um único membro, ou um membro mais que o outro. Enquanto o lipedema (não se confunde que até os nomes são parecidos) o inchaço é simétrico nos dois membros, lembra?

Tem artigo aqui explicando sobre o linfedema. Depois passa aqui pra conferir.

Pele Irregular: A pele nas áreas afetadas pode ficar irregular e parecer “acolchoada” devido ao acúmulo de gordura, podendo também ficar com aparência de celulite.

Eventualmente algumas pacientes relatam também uma sensação de pele fria.

Progressão do Lipedema

O lipedema é infelizmente uma condição progressiva, o que significa que tende a piorar ao longo do tempo se não for tratado adequadamente. Com o tempo, o acúmulo de gordura nas áreas afetadas pode aumentar, tornando os sintomas mais graves.

Isso pode incluir um aumento na dor, inchaço crônico e dificuldade de mobilidade. Portanto, é importante procurar tratamento o mais cedo possível para controlar a progressão do lipedema.

Essa progressão geralmente se dá em 4 estágios, que normalmente se misturam mas serve grosseiramente para nortear as condutas e tratamentos. São eles:

No estágio 1, é um acúmulo bem discreto. A não ser para olhos treinados como dos profissionais que lidam com isso, as pernas parecem ser normais. Se confundem mais ou menos com um inchaço por outra causa qualquer.
Por isso mesmo, é a mais negligenciada. As paciente costumam receber apenas orientações genéricas como perder peso ou cortar sal.

No estágio 2, a pele já começa a apresentar uma textura irregular, muito parecida com a celulite. Nessa fase a gordurinha já começa a ficar mais visível e aparente, como se a pessoa tivesse as “pernas grandes”.

No estágio 3, a gente já começa a ter uma aparência mais “deformada” (palavra feinha mas é só pra você entender a diferença pro estágio anterior). A gordura já se deposita de forma mais significativa ao longo das pernas.
Essa gordura já começa a fazer “dobras”, formando certos bolsões sobre os quadris, joelhos e tornozelos. A gordura apresenta também uma consistência mais dura.

Por último, no estágio 4 já acomete de forma severa a saúde e a qualidade de vida. Formam-se volumosos depósitos de gordura que comprometem a mobilidade, a higiene e outros sistemas começam a ser afetados também.

Por exemplo, o sistema linfático também fica comprometido, gerando acúmulo agora não só de gordura, mas também de líquido linfático. Condição essa conhecida como linfedema, que a gente já explicou aqui.

Basicamente o tecido gorduroso acumulado pressiona os vasos linfáticos, que são muito frágeis e fininhos, prejudicando a drenagem da linfa que vai se acumular nas pernas. Essa associação então é muitas vezes referida como Lipo-Linfedema.

Pessoas com lipedema nesses 2 estágios mais avançados principalmente podem estar em risco de desenvolver comorbidades e complicações, como celulite, infecções da pele, disfunção linfática e problemas nas articulações devido à carga extra das extremidades. Portanto, é essencial que os indivíduos com lipedema sejam monitorados de perto por um profissional de saúde e sigam um plano de tratamento adequado para evitar essas complicações.

Tipos de lipedema ou regiões acometidas pelo lipedema

São basicamente 5 tipos, de acordo com a região afetada.

Tipo 1 – Lipedema nas Nádegas: além do acúmulo de gordura visível na região posterior, pode causar desconforto e dor ao sentar.
Tipo 2 – Lipedema da cintura até os joelhos, geralmente se acumulando na parte interna dos joelhos, formando coxins gordurosos ali no meio.
Tipo 3 – Lipedema da cintura até os tornozelos. É o tipo mais comum e afeta praticamente todo o membro inferior. A parte inferior do corpo se torna desproporcional à parte superior. E se forma uma bolsa de gordura logo acima dos pés.
Tipo 4 – Lipedema nos braços: Esse ao contrário do anterior, é o mais incomum. Acomete principalmente a parte superior dos braços.
Tipo 5 – Lipedema nas panturrilhas: acomete exclusivamente as panturrilhas, poupando coxas e quadril. Causam dor e sensação de peso ao caminhar. Terapia compressiva ajuda bastante nesses casos.

Diagnóstico do Lipedema

Não existe um teste ou exame específico. O diagnóstico do lipedema geralmente é realizado em uma avaliação médica feita por um médico especializado e experiente no assunto, como um cirurgião vascular ou um angiologista.

O médico vai avaliar os sintomas, histórico médico, realizar um exame físico e pode até solicitar exames adicionais, mas com objetivo quase sempre de descartar outras condições e não de confirmar o lipedema.

Tratamento do Lipedema

Não existe um tratamento único para o lipedema, uma vez que a condição varia de pessoa para pessoa. O tratamento é geralmente personalizado com base nos sintomas e na gravidade da condição.

Como nós falamos antes, o lipedema é uma condição crônica e progressiva. Atualmente, não existe uma cura para o lipedema, mas há várias opções de tratamento disponíveis para ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pacientes acometidas. Aqui estão alguns pontos-chave do tratamento:

Fisioterapia: com manobras e exercícios o profissional de fisioterapia pode ajudar a melhorar a circulação, reduzir o inchaço e aliviar a dor. Os fisioterapeutas podem também ensinar exercícios específicos, técnicas de drenagem linfática manual e muito mais.

Massagens ou drenagem linfática: estimulando o fluxo linfático irá auxiliar a remoção do excesso de líquido, redução da dor e do inchaço.

Dieta saudável e hidratação: Fazer um acompanhamento nutricional é de extrema importância. Não só pela questão do peso em si e do nível de gordura. Geralmente passa por uma dieta antiinflamatória, evitando alimentos que causem ou aumentem os níveis de inflamação corporal. Beber muito líquido (entenda-se água!) também é fundamental.

Exercícios físicos: Além da importância da dieta, manter um peso saudável e praticar exercícios regulares vão ajudar a controlar os sintomas do lipedema. Apesar da gente saber que a redução do acúmulo de gordura não vai ser proporcional, a perda de peso e atividade física podem reduzir pelo menos em parte esse acúmulo de gordura.

Os exercícios, como você já cansou de me ouvir falar aqui, vão ajudar na função das veias, linfáticos e de mobilidade. Associar atividades de força e aeróbicos é o melhor dos mundos. Mas o mais importante é encontrar aquilo que te da prazer, pois é isso que vai te manter constante no exercício.

Cuidados com a pele: manter a pele muito bem hidratada vai ajudar essa pele da região a ser mais saudável, reduzindo inflamação local e o risco de feridas, rachaduras e infecções.

Terapia Compressiva: O uso de meias de compressão ou eventualmente algumas roupas especiais é uma daquelas medidas que eu considero fundamental e inegociável para auxiliar a reduzir o inchaço e melhorar a circulação sanguínea nas áreas afetadas.

Medicamentos: Em alguns casos, o médico que está te acompanhando pode prescrever medicamentos, não no intuito de curar ou resolver o problema, mas para reduzir a inflamação e a dor. O que em muitos casos é suficiente para aumentar drasticamente a autonomia e qualidade de vida da paciente.

Gerenciamento do Estresse: O estresse pode piorar os sintomas do lipedema. Aprender técnicas de gerenciamento do estresse, como a meditação e o relaxamento, pode ser útil. Em alguns casos acompanhamento também com psicólogo vai ser fundamental.

Além disso, participe de grupos de apoio ou fóruns online onde você pode compartilhar experiências com outras pessoas que têm lipedema. Isso pode fornecer suporte emocional e muitas dicas úteis de quem também passa por isso.

Cirurgia: Em casos graves de lipedema, a cirurgia pode ser considerada. Os procedimentos cirúrgicos, realizados geralmente por cirurgiões plásticos especializados, como a lipoaspiração, tem como objetivo remover o excesso de gordura das áreas afetadas.

É importante lembrar que a cirurgia não é uma cura definitiva e deve ser amplamente discutida com um médico especializado.

O objetivo do tratamento cirúrgico é: retardar a progressão da doença, evitar a disfunção linfática, diminuir os incômodos sintomas e a dor e, obviamente, melhorar a aparência estética.

Fui diagnosticada com lipedema

Esse é o tipo de diagnóstico que pode desencadear um enxurrada de sentimentos e emoções: tanto pela preocupação com o diagnóstico como aliviada por saber que não é sua culpa e de que sua dor é real.

Como você deve ter percebido, nós falamos aqui sobre fisioterapia, nutricionista, psicólogo, cirurgião vascular, cirurgião plástico… Em resumo, o lipedema passa bem longe de uma condição simples.

É um problema extremamente complexo, que vai demandar um acompanhamento multidisciplinar e muita dedicação desses profissionais e da própria paciente.

A pessoa acometida pela doença deve sempre contar com ajuda desses profissionais, mas não deve nunca achar que a resolução do problema está totalmente neles. A resposta, a melhora não estará em fatores externos, mas sim em si própria.

E vai exigir não só algumas técnicas ou hábitos novos, mas uma verdadeira mudança de vida! Hábitos fortes, consistentes e de longo prazo.

Se você acredita que pode estar sofrendo de lipedema, procure a orientação de um médico especializado, um cirurgião vascular. Ele pode te ajudar a diferenciar de outras condições, diagnosticar o problema e desenvolver um plano de tratamento adequado para suas necessidades individuais.

O tratamento precoce e o gerenciamento adequado do lipedema podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida das pessoas afetadas.

Existe prevenção do lipedema?

Não há uma maneira definitiva de prevenir o lipedema, uma vez que a genética desempenha um papel importante. No entanto, adotar um estilo de vida saudável, mantendo um peso adequado e praticando exercícios regularmente, pode ajudar a controlar os sintomas e evitar a progressão do problema e muitas complicações.

Relação entre Varizes e Lipedema

Embora varizes e lipedema sejam condições distintas, as varizes estão presentes em até 45% dos casos de lipedema, segundo alguns estudos. Logo, é muito comum encontrar casos em que a pessoa tenha ambas as condições ao mesmo tempo.

Essa associação não é incomum porque a pressão nas veias causada pelo acúmulo de gordura, além das alterações hormonais e inflamatórias que o tecido gorduroso causa, vão contribuir para o desenvolvimento de varizes.

Além disso, a dor e o inchaço associados ao lipedema podem ser agravados pela presença de varizes, tornando o diagnóstico e o tratamento adequado ainda mais importantes para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Muitas das orientações e abordagens para uma condição vão servir para a outra também. Mas dentro da idéia de acompanhamento global que o lipedema exige, é de extrema importância realizar o tratamento adequado das varizes também, para reduzir sintomas e evitar a piora progressiva do problema.

Outras dicas importantes sobre o tratamento do lipedema:

1. Expectativas Realistas: É importante que as pessoas com lipedema tenham expectativas realistas em relação ao tratamento. Embora o tratamento possa aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida, ele pode não eliminar completamente o acúmulo de gordura nas áreas afetadas. Portanto, é fundamental focar no alívio dos sintomas e no seu bem-estar geral.

2. Dietas Extremas Não São a Solução: Dietas de perda de peso extremas não são uma solução eficaz para o lipedema. Na verdade, a perda de peso drástica pode piorar os sintomas e a progressão da condição. É importante adotar uma abordagem equilibrada à alimentação e ao exercício, em vez de buscar soluções mirabolantes.

3. Paciência e Persistência: O tratamento do lipedema pode ser demorado, e os resultados podem variar de pessoa para pessoa. A paciência e a persistência são essenciais para alcançar melhorias. É importante continuar seguindo o plano de tratamento e fazer ajustes conforme necessário.

Convivendo com o Lipedema

O lipedema pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas afetadas. Além dos sintomas físicos, como dor, inchaço e desconforto, a condição também pode ter efeitos emocionais, incluindo ansiedade e depressão.

Muitas vezes elas ouvem de pessoas próximas, ou até mesmo de médicos (bem mal-informados) que o seu problema é comer demais, falta de esforço, de exercícios, etc.

Olhares estranhos, comentários desrespeitosos, as declarações preconceituosas de quem mais esperamos que nos entendam – Esses são alguns dos relatos das pacientes que sofrem com isso. Se você tem lipedema, provavelmente deve ter passado por alguma experiência semelhante.

Além da dor física, as pressões psicológicas também podem impactar a vida da mulher que sofre com lipedema e muitas vezes nem conhece a doença. Vergonha, medo do público, são algumas sensações que elas compartilham com as mulheres que sofrem de varizes por exemplo.

Felizmente, ao descobrir que lipedema existe e entender melhor a condição, você pode recorrer ao tratamento correto que pode mudar sua qualidade de vida! Por mais que não tenha cura, o tratamento alivia muito os sintomas e possibilita você a enfrentar isso da maneira correta!

Conviver com o lipedema pode ser desafiador, mas existem maneiras de melhorar a qualidade de vida e aliviar os sintomas. São todas essas que a gente discutiu aqui ao longo do artigo.

Autoconhecimento: É importante entender que o lipedema não é culpa sua. É uma condição médica e em boa parte das vezes não está relacionada ao ganho de peso causado por uma dieta inadequada, por exemplo.

Se permita receber ajuda nessa transformação. Conte com uma boa equipe e com um bom médico vascular especialista em lipedema (que infelizmente não sou eu, mesmo que eu perca pacientes prefiro ser verdadeiro com vocês).

E lembra: ESSA VIDA SEM VARIZES EXISTE!!

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